O papel da indústria na COP30 e na agenda climática
Em 29 de julho de 2025, às 15:03
A indústria brasileira tem papel importante em discussões da agenda climática e não seria diferente em um momento de proximidade com a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP), que neste ano terá a sua 30ª edição em Belém (PA), em novembro.
Com a nomeação de Dan Ioschpe, vice-presidente da FIESP (Federação das indústrias do Estado de São Paulo) e presidente do Conselho de Administração da Iochpe Maxion, como Campeão Climático de Alto Nível da COP 30, os olhares para as contribuições que podem surgir no evento para a indústria ficam ainda mais em voga.
Na COP30 a indústria brasileira vai apresentar suas iniciativas sustentáveis, contribuir para as discussões sobre a redução de emissões, contribuindo para o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono e transição energética.

SB COP: Movimento de Engajamento Global
A CNI lançou a SB COP, uma aliança empresarial que visa mobilizar o setor produtivo para a agenda climática da ONU, com foco na COP30. O intuito é formalizar as negociações climáticas e protocolizar compromissos empresariais alinhados com metas globais de redução de emissões. Inspirada no B20 – fórum de representação do setor privado dos países que compõem o G20 –, a SB COP é liderada pela CNI e conta com o apoio do Governo Federal e da Organização das Nações Unidas (ONU).
A SB COP estabeleceu seis grupos temáticos para discutir e elaborar recomendações sobre áreas prioritárias como transição energética, economia circular, bioeconomia, transição justa, financiamento climático e segurança alimentar, visando contribuir com as negociações da COP e com os compromissos do setor privado. Cada tema conta com um representante da indústria.
As prioridades empresariais para a COP30
O documento apresentado à presidência da COP30 estabelece cinco mensagens principais para orientar a atuação empresarial nas negociações climáticas:
- Acelerar a transição energética, visando a redução das emissões e o limite de 1,5°C até 2050.
- Fortalecer o financiamento climático, alinhando crescimento econômico e descarbonização.
- Assegurar uma transição justa, ampliando acesso à energia, saneamento e capacitação profissional.
- Reforçar cadeias de valor sustentáveis, com foco em economia circular e bioeconomia.
- Intensificar a colaboração global, promovendo marcos comuns para mercados de carbono e bioeconomia.
Oito eixos de trabalho
As recomendações foram elaboradas por oito grupos que trabalham em temas-chave para a agenda climática. Cada grupo é liderado por uma ou mais empresas, com participação de executivos brasileiros e internacionais.
Veja os principais pontos de cada um:
Transição energética
- Promover a eficiência energética por meio de conscientização e melhor acesso a dados. Inclui, ainda, a qualificação da força de trabalho, adoção de padrões obrigatórios de eficiência e estímulo para que as empresas avaliem e reduzam a intensidade de carbono dos produtos.
- Aumentar a adoção de renováveis para eletrificação. Acelerar o uso de fontes renováveis, com mecanismos de redução de riscos, apoio à infraestrutura de redes e adoção de armazenamento de energia, além de promover fontes de energia de baixo carbono e baseadas em biomassa, com critérios claros de sustentabilidade.
- Fomentar o desenvolvimento e a adoção de combustíveis sustentáveis. Avançar na regulamentação para garantir critérios de sustentabilidade (como uso do solo), apoiar pesquisa, desenvolvimento e comercialização, além de implementar mandatos e incentivos para ampliar seu uso.
Economia circular e materiais
- Inserir a circularidade nas cadeias globais. Incorporar métricas circulares no comércio internacional e nas compras públicas e privadas.
- Promover inovação em materiais e gestão de resíduos. Estimular materiais sustentáveis por meio de pesquisa e desenvolvimento.
- Fortalecer regulação e incentivos. Priorizar materiais pós-consumo em relação a matérias-primas virgens, promover a adoção global do Protocolo de Circularidade como padrão empresarial e desenvolver uma taxonomia global da economia circular para orientar regulações.
- Apoiar pesquisa, educação e mudança de comportamento. Lançar um pacto global de educação para circularidade, financiando pesquisa para soluções inovadoras e projetos-piloto com empresas.
Bioeconomia
- Convergir as três convenções UNFCCC, CBD e UNCCD e o Conselho de Direitos Humanos da ONU. Promover uma abordagem integrada que una clima, biodiversidade e uso do solo, alinhada às metas do Acordo de Paris e ao Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal.
- Fazer da bioeconomia um pilar estratégico da agenda da COP.
Sistemas alimentares
- Escalar inovação de baixo carbono e assistência técnica local. Desenvolver estratégias nacionais integradas para sistemas alimentares de baixo carbono, com políticas que ampliem práticas agrícolas baseadas na ciência.
- Construir modelos inovadores de financiamento para uma transição justa. Facilitar a transição por meio de parcerias público-privadas, coinvestimento e mobilização de capital para reduzir riscos.
Soluções baseadas na natureza (NbS)
- Integrar NbS aos mercados de carbono regulados. Estabelecer critérios científicos claros para garantir que os créditos de NbS cumpram os objetivos climáticos.
- Evoluir padrões de avaliação integrada dos impactos de NbS. Desenvolver metodologias de mensuração baseadas na ciência, levando em conta contextos regionais e biomas locais.
- Divulgar o papel das NbS como ferramenta essencial para o net zero. Melhorar a percepção pública sobre NbS, destacando seus múltiplos benefícios — incluindo biodiversidade, segurança hídrica e apoio às comunidades.
Cidades sustentáveis
- Ampliar o acesso à energia e saneamento. Garantir acesso universal à água, saneamento e energia nas áreas urbanas, incorporando práticas net zero e soluções de alta tecnologia para desenvolvimento sustentável das cidades.
- Aprimorar mobilidade urbana e infraestrutura logística.
- Fortalecer o planejamento urbano e a infraestrutura. Enfrentar o déficit habitacional e melhorar as condições de vida urbana.
Finanças de transição e investimento
- Reduzir barreiras estruturais para capital em mercados emergentes. Promover colaboração para reduzir essas barreiras por meio da ampliação de mecanismos de proteção contra riscos, alinhamento de fluxos de capital às necessidades de capital de giro e expansão do crédito verde.
- Aumentar a interoperabilidade e alinhamento dos mercados de carbono. Promover a convergência entre mercados de carbono, conectando acordos do Artigo 6, mercados voluntários e regulados, garantindo transparência e evitando dupla contagem.
- Acelerar a mobilização de capital para setores de difícil descarbonização. Fortalecer os frameworks de financiamento de transição, mitigando riscos em nível de projeto e destravando investimentos escaláveis.
Empregos verdes e capacitação
- Financiar a transição justa. Obter compromisso político para integrar o desenvolvimento de competências verdes nas NDCs, com sistemas de responsabilização.
- Apoiar a adaptação da força de trabalho informal.
- Qualificar a força de trabalho do futuro. Estabelecer mecanismos de governança tripartite para codesenvolver e escalar modelos de capacitação em competências verdes e digitais, por meio de investimento compartilhado e inovação curricular.
A indústria brasileira está se posicionando de forma estratégica e propositiva na agenda climática global, com protagonismo crescente rumo à COP30. Ao articular inovação, financiamento, capacitação e cooperação internacional, o setor industrial brasileiro se consolida como agente-chave na implementação de ações climáticas ambiciosas, reforçando que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade podem — e devem — caminhar juntos.
Fonte de consulta: Sustainable Business COP30 SB COP Priorities to COP30 June 2025